segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Vamos encontrar um meio?(por Roberto Shinyashiki)

Recebi este texto de um amigo e quero compartilhar com vocês...

Um meio ou uma desculpa (por Roberto Shinyashiki)
Não conheço ninguém que conseguiu realizar seu sonho, sem sacrificar feriados e domingos pelo menos uma centena de vezes.
Da mesma forma, se você quiser construir uma relação amiga com seus filhos, terá que se dedicar a isso, superar o cansaço, arrumar tempo para ficar com eles, deixar de lado o orgulho e o comodismo. Se quiser um casamento gratificante, terá que investir tempo, energia e sentimentos nesse objetivo.
O sucesso é construído à noite! Durante o dia você faz o que todos fazem. Mas, para obter um resultado diferente da maioria, você tem que ser especial. Se fizer igual a todo mundo, obterá os mesmos resultados.
Não se compare à maioria, pois, infelizmente ela não é modelo de sucesso. Se você quiser atingir uma meta especial, terá que estudar no horário em que os outros estão tomando chope com batatas fritas. Terá de planejar, enquanto os outros permanecem à frente da televisão. Terá de trabalhar enquanto os outros tomam sol à beira da piscina.
A realização de um sonho depende de dedicação, há muita gente que espera que o sonho se realize por mágica, mas toda mágica é ilusão, e a ilusão não tira ninguém de onde está, em verdade a ilusão é combustível dos perdedores pois…Quem quer fazer alguma coisa, encontra um MEIO. Quem não quer fazer nada, encontra uma DESCULPA.

Grande Edgar

Luis Fernando Verissimo: Grande Edgar
maio 26, 2007 in Faz bem ler, Humor, Livros



Grande Edgar, do sempre genial Luis Fernando Verissimo.

Livros (Books): Brasil | World

Já deve ter acontecido com você.

- Não está se lembrando de mim?

Você não está se lembrando dele. Procura, freneticamente, em todas as fichas armazenadas na memória o rosto dele e o nome correspondente, e não encontra. E não há tempo para procurar no arquivo desativado. Ele está ali, na sua frente, sorrindo, os olhos iluminados, antecipando a sua resposta. Lembra ou não lembra? Neste ponto, você tem uma escolha. Há três caminhos a seguir. Um, o curto, grosso e sincero.

- Não.

Você não está se lembrando dele e não tem por que esconder isso. O “Não” seco pode até insinuar uma reprimenda à sua pergunta. Não se faz uma pergunta assim, potencialmente embaraçosa, a ninguém, meu caro. Pelo menos não entre pessoas educadas. Você deveria ter vergonha. Não me lembro de você e mesmo que lembrasse não diria. Passe bem.

Outro caminho, menos honesto mas igualmente razoável, é o da dissimulação.

- Não me diga. Você é o… o…

“Não me diga”, no caso, quer dizer “Me diga, me diga”. Você conta com a piedade dele e sabe que cedo ou tarde ele se identificará, para acabar com a sua agonia. Ou você pode dizer algo como:

- Desculpe, deve ser a velhice, mas…

Este também é um apelo à piedade. Significa “Não torture um pobre desmemoriado, diga logo quem você é!” É uma maneira simpática de dizer que você não tem a menor idéia de quem ele é, mas que isso não se deve à insignificância dele e sim a uma deficiência de neurônios sua.

E há o terceiro caminho. O menos racional e recomendável. O que leva à tragédia e à ruína. E o que, naturalmente, você escolhe.

- Claro que estou me lembrando de você!

Você não quer magoá-lo, é isso. Há provas estatísticas que o desejo de não magoar os outros está na origem da maioria dos desastres sociais, mas você não quer que ele pense que passou pela sua vida sem deixar um vestígio sequer. E, mesmo, depois de dizer a frase não há como recuar. Você pulou no abismo. Seja o que Deus quiser. Você ainda arremata:

- Há quanto tempo!

Agora tudo dependerá da reação dele. Se for um calhorda, ele o desafiará.

- Então me diga quem eu sou.

Neste caso você não tem outra saída senão simular um ataque cardíaco e esperar, falsamente desacordado, que a ambulância venha salvá-lo. Mas ele pode ser misericordioso e dizer apenas:

- Pois é.

Ou:

- Bota tempo nisso.

Você ganhou tempo para pesquisar melhor a memória. Quem é esse cara, meu Deus? Enquanto resgata caixotes com fichas antigas do meio da poeira e das teias de aranha do fundo do cérebro, o mantém à distância com frases neutras como “jabs” verbais.

- Como cê tem passado?

- Bem, bem.

- Parece mentira.

- Puxa. (Um colega da escola. Do serviço militar. Será um parente? Quem é esse cara, meu Deus?)

Ele está falando:

- Pensei que você não fosse me reconhecer…

- O que é isso?!

- Não, porque a gente às vezes se decepciona com as pessoas.

- Eu esquecer você? Logo você?

- As pessoas mudam. Sei lá.

- Que idéia! (É o Ademar! não. o Ademar já morreu. Você foi ao enterro dele. O… o… como era o nome dele? Tinha uma perna mecânica? Você pode chutá-lo amigavelmente. E se chutar a perna boa? Chuta as duas. “Que bom encontrar você!” e paf, chuta uma perna. “Que saudade!” e paf, chuta a outra. Quem é esse cara?)

- É incrível como a gente perde contato.

- É mesmo.

Uma tentativa. É um lance arriscado, mas nesses momentos deve-se ser audacioso.

- Cê tem visto alguém da velha turma?

- Só o Pontes.

- Velho Pontes! (Pontes. Você conhece algum Pontes? Pelo menos agora tem um nome com o qual trabalhar. Uma segunda ficha para localizar no sótão. Pontes, Pontes…)

- Lembra do Croarê?

- Claro!

- Esse eu também encontro, às vezes, no tiro ao alvo.

- Velho Croarê! (Croarê. Tiro ao alvo. Você não conhece nenhum Croarê e nunca fez tiro ao alvo. É inútil. As pistas não estão ajudando. Você decide esquecer toda a cautela e partir para um lance decisivo. Um lance de desespero. O último, antes de apelar para o enfarte.)

- Rezende…

- Quem?

Não é ele. Pelo menos isto está esclarecido.

- Não tinha um Rezende na turma?

- Não me lembro.

- Devo estar confundindo.

Silêncio. Você sente que está prestes a ser desmascarado.

Ele fala:

- Sabe que a Ritinha casou?

- Não!

- Casou.

- Com quem?

- Acho que você não conheceu. O Bituca.

Você abandonou todos os escrúpulos. Ao diabo com a cautela. Já que o vexame é inevitável, que ele seja total, arrasador. Você está tomado por uma espécie de euforia terminal. De delírio do abismo. Como que não conhece o Bituca?

- Claro que conheci! Velho Bituca…

- Pois casaram.

É a sua chance. É a saída. Você passa ao ataque.

- E Não me avisaram nada?!

- Bem…

- Não. Espera um pouquinho. Todas essas coisas acontecendo, a Ritinha casando com o Bituca, o Croarê dando tiro, e ninguém me avisa nada?!

- É que a gente perdeu contato e…

- Mas o meu nome está na lista, meu querido. Era só dar um telefonema. Mandar um convite.

- É…

- E você ainda achava que eu não ia reconhecer você. Vocês é que esqueceram de mim!

- Desculpe, Edgar. É que…

- Não desculpo não. Você tem razão. As pessoas mudam… (Edgar. Ele chamou você de Edgar. Você não se chama Edgar. Ele confundiu você com outro. Ele também não tem a mínima idéia de quem você é. O melhor é acabar logo com isso. Aproveitar que ele está na defensiva. Olhar o relógio e fazer cara de “Já?!”)

- Tenho que ir. Olha, foi bom ver você, viu?

- Certo, Edgar. E desculpe, hein?

- O que é isso? Precisamos nos ver mais seguido.

- Isso.

- Reunir a velha turma.

- Certo.

- E olha, quando falar com a Ritinha e o Mutuca…

- Bituca.

- E o Bituca, diz que eu mandei um beijo. Tchau, hein?

- Tchau, Edgar!

Ao se afastar, você ainda ouve, satisfeito, ele dizer “Grande Edgar”. Mas jura que é a última vez que fará isso. Na próxima vez que alguém lhe perguntar “Você está me reconhecendo?” não dirá nem não. Sairá correndo.

Casal é tudo Igual

Ele: – Alô?
Ela: – Pronto.
Ele: – Voz estranha… Gripada?
Ela: – Faringite.
Ele: – Deve ser o sereno. No mínimo tá saindo todas as noites pra badalar.
Ela: – E se estivesse? Algum problema?
Ele: – Não, imagina! Agora, você é uma mulher livre.
Ela: – E você? Sua voz também está diferente. Faringite?
Ele: – Constipado.
Ela: – Constipado? Você nunca usou esta palavra na vida.
Ele: – A gente aprende.
Ela: – Tá vendo? A separação serviu para alguma coisa.
Ele: – Viver sozinho é bom. A gente cresce.
Ela: – Você sempre viveu sozinho. Até quando casado só fez o que quis.
Ele: – Maldade sua, pois deixei de lado várias coisas quando a gente se casou.
Ela: – Evidente! Só faltava você continuar rebolando nas discotecas com as amigas.
Ele: – Já você não abriu mão de nada. Não deixou de ver novela, passear no shopping, comprar jóias, conversar ao telefone com as amigas durante horas…
… Silêncio ….
Ela: – Comprar jóias? De onde você tirou essa idéia? A única coisa que comprei em quinze anos de casamento foi um par de brincos.
Ele: – Quinze anos? Pensei que fosse bem menos.
Ela: – A memória dos homens é um caso de polícia!

Ele: – Mas conversar com as amigas no telefone…
Ela: – Solidão, meu caro, cansaço… Trabalhar fora, cuidar das crianças e ainda preparar o jantar para o HERÓI que chega � noite…Convenhamos, não chega a ser uma roda-gigante de emoções…
Ele: – Você nunca reclamou disso.
Ela: – E você me perguntou alguma vez?
Ele: – Lá vem você de novo… As poucas coisas que eu achava que estavam certas… Isso também era errado!?
Ela – Evidente, a gente não conversava nunca…
Ele: – Faltou diálogo, é isso? Na hora, ninguém fala nada. Aparece um impasse e as mulheres não reclamam. Depois, dizem que faltou diálogo. As mulheres são de Marte.
Ela: – E vocês são de Saturno!
…Silêncio…
Ele: – E aí, como vai a vida?
Ela: – Nunca estive tão bem. Livre para pensar, ninguém pra me dizer o que devo fazer…
Ele: – E isso é bom?
Ela: – Pense o que quiser, mas quinze anos de jornada são de enlouquecer qualquer uma.
Ele: – Eu nunca fui autor itário!
Ela: – Também nunca foi compreensivo!
Ele: – Jamais dei a entender que era perfeito. Tenho minhas limitações como qualquer mortal..
Ela: – Limitado e omisso como qualquer mortal.
Ele: – Você nunca foi irônica.
Ela: – Isso a gente aprende também.
Ele: – Eu sempre te apoiei.
Ela: – Lógico. Se não me engano foi no segundo mês de casamento que você lavou a única louça da tua vida. Um apoio inestimável…Sinceramente, eu não sei o que faria sem você. Ou você acha que fazer vinte caipirinhas numa tarde para um bando de marmanjos que assistem ao jogo da Copa do Mundo era realmente o meu grande objetivo na vida?
Ele: – Do que você está falando?
Ela: – Ah, não lembra?
Ele: – Ana, eu detesto futebol.
Ela: – Ana!? Esqueceu meu nome também? Alexandre, você ficou louco?
Ele: – Alexandre? Meu nome é Ronaldo!
…Silêncio…
Ele: – De onde está falando?
Ela: – 578 9922
Ele: – Não é o 579 9222?
Ela: – Não.
Ele: – Ah, desculpe, foi engano.
Depois de um tempo ambos caem na gargalhada.
Ele: Quer dizer que você faz uma ótima caipirinha, hein?
Ela: – Modéstia � parte… Mas não gosto, prefiro vinho tinto.
Ele: – Mesmo? Vinho é a minha bebida preferida!
Ela: – E detesta futebol?
Ele: – Deus me livre… 22 caras correndo atrás de uma bola… Acho ridículo!
Ela: – Bem, você me dá licença, mas eu vou preparar o jantar.
Ele: – Que pena… O meu já está pronto. Risoto, minha especialidade!
Ela: – Mentira! É o meu prato predileto…
Ele: – Mesmo! Bem, a porção dá pra dois, e estou abrindo um Chianti também.Você não gostaria de…
Ela: – Adoraria!
….Ele dá o endereço.
Ela: – Nossa, tão pertinho! São dois quarteirões daqui.
Ele: – Então? É pegar ou largar.
Ela: – Tô passando aí, Ronaldo.
Ele: – Combinado, vizinha.